Publicado em : 13/09/2019 - Atualizado em: 16/09/2019 09:25:58

Edital de internacionalização aprova 211 bolsas para professores e doutorandos

A internacionalização possibilita submeter a pesquisa ao crivo de análise, portanto, melhora a qualidade do conhecimento


Sinônimo de circulação de conhecimento, a internacionalização ganha mais um importante capítulo na UFBA. Contando com os recursos do Programa Interinstitucional de Internacionalização (Capes PrInt), a Universidade aprovou um total de 211 solicitações de bolsas de financiamento de ações de mobilidade internacional de docentes e doutorandos.

Nas modalidades que contemplam professores – professor visitante, jovem talento, pós-doutorado, capacitações e auxílios para missões – , referentes ao edital Nº 02/2018, de 208 demandas, 115 foram aprovadas. No edital 01/2019, voltado a estudantes, 96 bolsas de doutorado sanduíche no exterior foram aprovadas – porém, o resultado final será divulgado apenas após a prova de proficiência linguística, a ser realizada em novembro.

“A internacionalização possibilita submeter a pesquisa ao crivo de análise, portanto, melhora a qualidade do conhecimento”, afirma o pró-reitor de Pesquisa, Criação e Inovação da UFBA, Olival Freire Jr. Ele avalia que a internacionalização está sempre associada e subordinada à busca de conhecimento de qualidade: “não é um problema de conhecer outros países e falar outra língua, é o caminho para produzir bom conhecimento”.

Para o pró-reitor, a internacionalização é um esforço que amplia as possibilidades de análise e crítica de uma pesquisa. Por outro lado, é também uma maneira eficaz de o pesquisador aprimorar o conhecimento produzido, seja pela absorção, seja pela interação com boas práticas e saberes cultivados em outros países.

“O Capes PrInt é um grande projeto, [pois] permitiu que a UFBA conseguisse um aporte de recursos que não é desprezível, nesse quadro complexo de restrições e cortes em várias agências de fomento”, observa Olival. Apesar do corte de 30% no orçamento, que resultou principalmente em remanejamentos de períodos [de duração de bolsas], essa ação permitiu à UFBA o gerenciamento de seu processo de internacionalização em sintonia com seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI).

No ano passado, a UFBA foi selecionada para integrar o grupo de 36 instituições de ensino superior brasileiras habilitadas a receber recursos do Programa, que estabeleceu novos critérios para a liberação e gestão de recursos para internacionalização da pesquisa, passando às universidades a decisão sobre a alocação dos recursos. Antes, no “formato balcão”, os pesquisadores filiados a programas de pós-graduação com nota 4 ou mais pleiteavam financiamento diretamente à Capes. Agora, eles solicitam verbas para internacionalização a comitês gestores de suas próprias universidades.

“Todos os bolsistas passaram por um crivo rigoroso de qualidade”, salienta o pró-reitor, que também preside o comitê gestor que avaliou as propostas, composto por pesquisadores de notório destaque em todas as grandes áreas do conhecimento. “O comitê buscou fazer o melhor uso dos recursos disponíveis para ter a melhor internacionalização.” Em 2019, depois dos cortes anunciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o orçamento do Capes PrInt ficou em torno de R$ 7 milhões.

O pró-reitor alerta, entretanto, que a proficiência em línguas estrangeiras – sobretudo o inglês – ainda é um desafio à internacionalização, pois, apesar dos esforços na preparação dos doutorandos, há uma taxa de insucesso na proficiência que varia entre 20 e 25%. Nos próximos editais do Capes PrInt, a Universidade pretende focar na melhoria da preparação nesse item, “absolutamente essencial”, afirma Olival.

Conheça, a seguir, três pesquisas aprovadas na modalidade professor visitante, no qual professores da UFBA irão atuar como colaboradores em universidades do exterior e desenvolverão suas pesquisas.

O saber matemático

O matemático Jonei Cerqueira Barbosa, do programa de pós-graduação em Ensino Filosofia e História das Ciências, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq nível 1D, irá pesquisar a literatura referente à matemática para o ensino, de modo a identificar, descrever e sintetizar os resultados de pesquisas sobre o saber matemático de professores que ensinam nessa área. Ele será professor visitante na Universidade de Nova Jersey, nos Estados Unidos, por três meses.

A experiência estabelece uma colaboração com o professor norte-americano Arthur Powell, cuja preocupação é a educação matemática crítica. “Não se trata apenas de um modo de representar conceitos e algoritmos didaticamente, mas de suas justificativas”, explica Barbosa. A busca é por “sistematizar os resultados alcançados para o campo da pesquisa e, assim, extrair implicações para repensar a formação inicial e continuada de professores que ensinam matemática, de modo a ter melhores resultados na aprendizagem dos alunos da educação básica”, explica o professor.

Sobre a parceria, ele afirma com convicção que trata-se de uma experiência fundamental para potencializar a análise e os resultados. “Temos a chance de estabelecer parcerias mais abrangentes, as quais, em última instância, oxigenam o projeto de pesquisa em andamento. Isso fortalece a internalização da pesquisa [e] coloca o Brasil o cenário internacional, particularmente nos avanços que a área científica está produzindo”, observa Barbosa.

Saúde nos municípios

Avaliação das relações entre financiamento, provisão, efetividade e equidade dos serviços de saúde nos municípios brasileiros no período de 2004 a 2018 são os temas centrais da pesquisa do médico e doutor em saúde pública Luis Eugenio de Souza, do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva. O estudo irá comparar um período de crescimento econômico e expansão das políticas sociais e de saúde com outro período de baixíssimo crescimento e contenção ou redução dos investimentos em políticas sociais e de saúde, em 5.570 municípios brasileiros, por meio de medidas de associação entre recursos financeiros investidos, cobertura populacional alcançada e taxas de mortalidade e internação.

Souza será professor visitante na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, onde, por quatro meses, dará continuidade à linha de pesquisa que desenvolve desde 2016, que busca pensar o impacto da crise econômica e de medidas de austeridade sobre a saúde da população. Seu futuro colega de trabalho, o professor Martin McKee, autor de onze livros – dentre eles “Health: A Vital Investment for Economic Development in Eastern Europe and Central Asia” (Saúde: um investimento vital para o desenvolvimento econômico na Europa Oriental e Ásia Central, sem tradução para o português) de 2008, ainda sem tradução para o português – realiza pesquisas na mesma linha, porém, com foco em países europeus.

“Certamente, a aproximação das duas realidades – europeia e brasileira – será produtiva do ponto de vista do aprofundamento da compreensão das relações entre contexto econômico e situação de saúde, em particular, e do processo de determinação social da saúde, em geral”, disse o professor, que é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq nível 2.

Poesia em diferentes tempos

O diálogo entre as obras do poeta português Antônio Aleixo (1899-1949) e do baiano Antônio Vieira (falecido em 2007, aos 48 anos), compositor, poeta e cordelista – cujo trabalho denominado “O Cordel Remoçado” une música e literatura popular numa linguagem simples e contemporânea-, será estudado por Edilene Dias Matos, do programa de pós-graduação em Cultura e Sociedade (IHAC), no Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Universidade Nova de Lisboa, por quatro meses.

O foco do projeto é articular os dois autores, por meio do desafio de entrelaçar “as múltiplas manifestações reflexivo, artístico e culturais”, conta Matos. Ela explica que o trabalho de ambos alia corpo e gesto, palco e espaço, oralidade e escrita, com a voz assumindo, em sua pesquisa, a figura de “espaço de fronteiras entre culturas, um tecido de tramas entre memória, história, encenação (corpo), traço, olho e letra”, que se “propõe investigar, contemporaneamente, as diferentes vozes que permeiam o que chamamos de poética das culturas orais e que atravessam o presente, mas formam teias de contato com aquelas vozes que se inscreveram na história”.

“Uma universidade de qualidade não pode (e não deve) prescindir de um amplo projeto de internacionalização”, resume Matos.

FONTE: EDGARDIGITAL